segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Pais e Filhos: Nature or Nurture?

"A educação exige os maiores cuidados, porque influi sobre toda a vida.”
Séneca

O tema pais e filhos sempre suscitou em mim muita reflexão.
Talvez seja por não ter, realmente, vivido uma relação autêntica ou plena, da perspectiva de filha.
Sim, porque há pais que procuram respostas nos filhos, em vez de lhes proporcionarem eles a orientação que a qualquer progenitor incumbe.
É bem verdade que os genes têm muito a dizer, no que respeita ao feitio de cada indivíduo. Mas parece-me interessante entrar neste tão famoso debate de “Nature or Nurture?”
O que será mais determinante na formação da personalidade dos nossos filhos? A constituição genética com que nasceram ou a forma como os seus encarregados de educação os programam?
Acredito profundamente nas duas coisas. No entanto, embora não sendo especialista na matéria, nem tendo estudado o assunto com a devida profundidade, parece-me que a predisposição genética será determinante, apenas, para problemas físicos e doenças genéticas, bem como para problemas de dependência. Com isto quero dizer que, de acordo com a minha limitada experiência, um toxicodependente descenderá de uma linhagem com essa predisposição: terá um pai ou uma mãe, por exemplo, com esse mesmo problema. Coisa que poucas pessoas parecem entender, preferindo apontar o dedo aos pais dos toxicodependentes. Aqui intervém a Natureza.
Já a questão da programação – Nurture – que os nossos pais nos dão, é outra.
Desde que nascemos, até ao dia em que saímos de casa deles, para o nosso próprio espaço, que recebemos os seus inputs. E aquilo que somos baseia-se na qualidade daquilo que eles nos deram.
O que mais me aflige, nos pais, é a incapacidade de tantos deles para proporcionar bases seguras à sua progenitura, tendo o cuidado de separar o trigo do joio da sua própria programação.
Mais do que tudo, parece-me fundamental que qualquer pessoa que deseje ter filhos faça uma análise exaustiva da sua pessoa, para perceber até que ponto está preparada para educar uma criança, sem repetir nela os erros de programação dos seus próprios pais.
É certo que somos todos diferentes. É certo que todos funcionamos de forma diversa. É certo que ninguém nos dá um manual de instruções quando temos os nossos filhos.
Contudo, parece-me que os potenciais pais deveriam, efectivamente, procurar ajuda e apoio, antes de conceberem os filhos, por um lado, para identificarem os seus próprios sonhos e as suas próprias frustrações e, por outro, para determinarem as suas aptidões no que respeita a não os projectarem nos filhos.
Sim, porque não é apenas um cliché dizer que as crianças são o nosso futuro – as crianças de hoje são mesmo os adultos de amanhã.
Seremos nós assim tão egoístas que não nos importemos com o resultado daquilo que fazemos aos nossos filhos, por pensarmos que eles só nos devem gratidão por os termos posto neste mundo?
Digo que há pais e mães que não deviam ter filhos. Ou mais do que um filho.
Deve haver pouca coisa pior para a auto-estima de uma criança – e futuro adulto – do que passar a sua infância preterida em relação a um irmão. Ou passar a sua infância afastada de um ou ambos os pais.
Conheço uma pessoa já sexagenária, amarga e desagradável, ressabiada e irascível, que passa a vida a infernizar todos os que estão à sua volta, apenas porque a mãe a abandonou quando ela era bebé. É assim que eu compreendo a sua forma de ser. Se ela não tem a capacidade de se dar conta disso e de dar a volta por cima, já é outra história.
Agora, meus caros, que é muito difícil contrariar a programação que recebemos, é.
Disso não tenho a menor dúvida.
Se a nossa programação consistiu em ceder sempre o nosso lugar aos outros, seremos certamente pessoas por demais influenciáveis e introvertidas na nossa vida adulta.
Se, pelo contrário, a nossa programação foi ser o centro das atenções, o mais provável é tornarmo-nos adultos egoístas e auto-centrados.
É nesta questão da programação que culpo os pais.
Posso estar a ser dura, mas é assim que vejo as coisas.
Os pais devem, na minha opinião, mostrar a cada um dos filhos que o amor que sentem por eles é absolutamente incondicional. Não podemos cair no absurdo de considerar que um pai deve tratar todos os filhos da mesma maneira, pois cada um é como é, e cada um deve ser abordado de acordo com a sua forma de ser. Mas a demonstração de amor incondicional pelos filhos tem de ser uniforme. Não pode apresentar quaisquer variações.
No fundo, isso acaba por ser o mais importante, se pensarmos bem. Todos os nossos complexos, que carregamos como um fardo pesado às costas, pela vida fora, derivam da percepção que temos do amor que os nossos pais nutrem por nós.
Na idade adulta, cabe-nos a nós identificar cada componente daquilo que nos faz vergar as costas, para nos descartarmos do peso a mais, por mais difícil que seja.
Mas o melhor seria mesmo que as pessoas pensassem muito bem nas suas capacidades parentais, antes de trazerem ao mundo os nossos futuros cidadãos.
Esta conversa tem muito que se lhe diga. Certamente que voltarei a abordar este tema.

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